Antônio Gonçalves da Silva nasceu aos 19 de Março de 1839, em Portugal. Filho de humildes camponeses, tendo apenas completado a instrução primária, veio, com cerca de 11 anos de idade, para o Brasil, aportando na Guanabara a 3 de Janeiro de 1850.
Durante três anos trabalhou no comércio da Corte. Daí passou para Campinas (Estado de São Paulo), onde ficou por algum tempo até que se transferiu definitivamente para a capital paulista, que na ocasião deveria possuir menos de trinta mil habitantes. Aí, nos primeiros anos, foi distribuidor do Correio Paulistano. Naquele tempo, não havia bancas de jornal nos lugares públicos. A entrega se fazia à tarde, de casa em casa, e tão somente aos assinantes.
Diligente, honesto e espírito dócil, Batuíra, como entregador de jornais, ia formando amigos e admiradores em toda a parte. Muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara o Batuíra, nome que o povo dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de vôo rápido, que freqüentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, pelos transbordamentos do rio Tamanduateí.
Dentro de pouco tempo, com as economias que reuniu, e naturalmente com o auxílio de pessoas amigas, montou um teatrinho nos fundos de uma taverna da Rua da Cruz Preta (sucessivamente rua do Príncipe e Quintino Bocaiúva).
O teatrinho de Batuíra funcionou no período de 1860 a 1870, e dispunha de pequeno palco, platéia e uma única ordem de tribunas, com a lotação máxima de duzentas pessoas.
Perseverando na sua faina, dedicava-se depois à fabricação de charutos. Assim, com bastante trabalho e economia, Batuíra fazia crescer suas modestas finanças, o que lhe permitiu esposar a Srta. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a falecer depois de homem feito e casado.
Audaz, como todos os grandes empreendedores o são, aplicou seu dinheiro na compra de uma área de terreno no Lavapés, zona então desvalorizada da cidade, e ali construiu sua residência. Sempre muito ativo, ia aos poucos aumentando sua propriedade. Adquiriu, a seguir, da família Cardim, o morro do Lavapés, demolindo-o em grande parte.
Data desta época a prosperidade mais folgada de Batuíra. Demolindo, ia vendendo o saibro para construções em diferentes pontos da cidade, que iniciava a sua marcha de expansão. Dentro em pouco tempo o antigo Pasto de Tenente era arruado. Batuíra construía pequenas casas para alugar, ao mesmo tempo que vendia lotes de terreno, agora a bom preço, em virtude da rápida valorização das terras.
Tornou-se, assim, o pobre portuguesinho de Santas Águas um abastado proprietário, cujos haveres traduziam o fruto de muitos anos de trabalho árduo e honrado, unido a uma perseverança inquebrantável.
A felicidade que morava no seu lar não demora, na entanto, a ser empanada. O destino parece que reservava para Batuíra uma nova estrada, cheia de sacrifícios não há dúvida, mas regada de sublimes e incomparáveis alegrias da alma.
Na ocasião em que tudo parecia correr bem, falece, quase repentinamente, o filho único de sua segunda esposa, D. Maria das Dores Coutinho e Silva. Era uma criança de doze anos, por quem o casal se extremava em dedicação e carinho.
Este golpe feriu profundamente aquele lar, que só pôde encontrar lenitivo à dor na consoladora Doutrina dos Espíritos.
Tão grande foi a paz que o Espiritismo lhes infundiu, que Batuíra imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outros companheiros de labutas terrenas tivessem conhecimento daquela abençoada fonte de esperanças novas.
Inúmeras vezes escondera escravos fugidos dos maus tratos dos senhores, e, sempre que eles eram descobertos, envidava todos os esforços para comprar-lhes a liberdade.
Conta-se que nas epidemias variólicas que grassaram na capital paulista, em 1873 e 1875, Batuíra acolheu numerosos enfermos em sua casa, entre aqueles mais desprovidos de recursos, e, além de tratá-los e curá-los, dava-lhes, ainda, alimento e agasalho. Aquela casa não só tornara um verdadeiro hospital, mas principalmente um lar para os variolosos.
Por ocasião dos terremotos de 1887, na Itália, foi organizado um verdadeiro cortejo de espíritas pelas ruas da cidade, a fim de angariarem donativos em favor das vítimas. Batuíra foi um dos que fizeram parte daquele grupo, e a sua veneranda presença talvez tenha concorrido para a boa coleta obtida.
No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de S. Paulo, o agente exclusivo do Reformador, função de que se encarregou até 1899 ou 1900.
Batuíra construiu confortável chalé, com vasto salão, adequadamente mobiliado, e ali restabeleceu o Grupo Espírita Verdade e Luz. Precisamente no domingo de 6 de Abril de 1890, diante de grande assistência, Batuíra dava início, nesse Grupo, a uma série de explicações do Evangelho segundo o Espiritismo.
Sentindo a premente necessidade de um órgão para a propaganda, difusão e defesa da Doutrina em São Paulo, adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou Tipografia Espírita.
Verdade e Luz era o nome da publicação quinzenal que apareceu desassombradamente naquele fim de século, como órgão do Espiritualismo científico, encerrando no frontispício estas duas epígrafes: Sem Caridade não há salvação e Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a lei.
Enfronhara-se nos livros de Homeopatia, a fim de gratuitamente medicar os doentes paupérrimos que lhe batiam à porta. Cheios de fé, em número sempre crescente, acorriam à casa do caridoso prático, que chegou a clinicar com boas vitórias, fato perfeitamente compreensível, pois que Batuíra era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que obtinha ministrando água efluviada ou aplicando passes magnéticos.
Em 1906 vivia na residência de Batuíra, em tratamento, meia dúzia de obsidiados, entre os quais se contava uma mulher que, por falta de vaga no hospício, lhe fora confiada pela autoridade policial do Braz. Isto se dava comumente, o que bem demonstra a boa fama de que gozava o grande espírita.
A ação benemérita de Batuíra não se circunscrevia, entretanto, a estas manifestações da caridade cristã. Foi muito mais além. Criou ele Grupos e Centros Espíritas em S. Paulo, Minas Gerais, Estado do Rio, os quais animava e assistia; realizou conferências sobre diversos temas doutrinários, em inúmeras cidades de vários Estados, ocasião em que também visitava e curava irmãos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos de propaganda do Espiritismo, por ele próprio impressos, e distribuiu milhares de livros pelo interior do País.
Em dezembro de 1904 lança as bases da Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz, em cujo patrimônio passaram a figurar a tipografia com todos os seus acessórios, bem como dois sítios localizados no Município de Santo Amaro, nos quais ficariam estabelecidas agremiações para o socorro aos órfãos e às viúvas pobres, realizando-se ali também o tratamento de enfermos e obsidiados. Às crianças seria ministrado educação e instrução.
Tudo isso foi concretizado, apesar da deficiência dos recursos monetários de Batuíra, que nesta ocasião chegou mesmo a apelar para quantos pudessem trazer a sua contribuição à obra, pois, frisava ele, não estamos dispostos a abandoná-la.
Sentindo, afinal, chegada à hora de concretizar no Estado de S. Paulo um belo e muito importante anseio da Federação Espírita Brasileira, Batuíra, unido a outros confrades ilustres, constituiu na capital paulista, a 24 de Maio de 1908, a União Espírita do Estado de S. Paulo, que federaria todos os Centros e Grupos existentes no Estado.
Em Setembro de 1908, em vez de assinar Ninguém, como sempre o fizera, Batuíra subscreveu-se Alguém. Diante de sua consciência, só agora se julgava alguém na Seara Espiritista: havia consolidado a Instituição Beneficente Verdade e Luz, à qual acabava da doar tudo quanto possuía, com plena aprovação da esposa.
Inteiramente convencido de que só o Amor constrói para a eternidade, o velho Batuíra não esmorecia um só instante no apostolado da Caridade, não medindo sacrifícios em tão belo quão árduo labutar.
Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo, e, zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias obriga-o a transpor as aduanas do Além. Às dezesseis horas de 22 de Janeiro de 1909, seus despojos baixaram a terra, no cemitério da Consolação.
Fonte:
O texto em resumo acima foi extraído da obra citada abaixo:
Grandes Espíritas do Brasil de Zêus Wantuil.
Link da Página: http://www.grupoandreluiz.org.br/ler_biografia.php?id=5
(Publicado em 22/03/2009)
Durante três anos trabalhou no comércio da Corte. Daí passou para Campinas (Estado de São Paulo), onde ficou por algum tempo até que se transferiu definitivamente para a capital paulista, que na ocasião deveria possuir menos de trinta mil habitantes. Aí, nos primeiros anos, foi distribuidor do Correio Paulistano. Naquele tempo, não havia bancas de jornal nos lugares públicos. A entrega se fazia à tarde, de casa em casa, e tão somente aos assinantes.
Diligente, honesto e espírito dócil, Batuíra, como entregador de jornais, ia formando amigos e admiradores em toda a parte. Muito ativo, correndo daqui para acolá, a gente da rua o apelidara o Batuíra, nome que o povo dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de vôo rápido, que freqüentava os charcos na várzea formada, no atual Parque D. Pedro II, pelos transbordamentos do rio Tamanduateí.
Dentro de pouco tempo, com as economias que reuniu, e naturalmente com o auxílio de pessoas amigas, montou um teatrinho nos fundos de uma taverna da Rua da Cruz Preta (sucessivamente rua do Príncipe e Quintino Bocaiúva).
O teatrinho de Batuíra funcionou no período de 1860 a 1870, e dispunha de pequeno palco, platéia e uma única ordem de tribunas, com a lotação máxima de duzentas pessoas.
Perseverando na sua faina, dedicava-se depois à fabricação de charutos. Assim, com bastante trabalho e economia, Batuíra fazia crescer suas modestas finanças, o que lhe permitiu esposar a Srta. Brandina Maria de Jesus, de quem teve um filho, Joaquim Gonçalves Batuíra, que veio a falecer depois de homem feito e casado.
Audaz, como todos os grandes empreendedores o são, aplicou seu dinheiro na compra de uma área de terreno no Lavapés, zona então desvalorizada da cidade, e ali construiu sua residência. Sempre muito ativo, ia aos poucos aumentando sua propriedade. Adquiriu, a seguir, da família Cardim, o morro do Lavapés, demolindo-o em grande parte.
Data desta época a prosperidade mais folgada de Batuíra. Demolindo, ia vendendo o saibro para construções em diferentes pontos da cidade, que iniciava a sua marcha de expansão. Dentro em pouco tempo o antigo Pasto de Tenente era arruado. Batuíra construía pequenas casas para alugar, ao mesmo tempo que vendia lotes de terreno, agora a bom preço, em virtude da rápida valorização das terras.
Tornou-se, assim, o pobre portuguesinho de Santas Águas um abastado proprietário, cujos haveres traduziam o fruto de muitos anos de trabalho árduo e honrado, unido a uma perseverança inquebrantável.
A felicidade que morava no seu lar não demora, na entanto, a ser empanada. O destino parece que reservava para Batuíra uma nova estrada, cheia de sacrifícios não há dúvida, mas regada de sublimes e incomparáveis alegrias da alma.
Na ocasião em que tudo parecia correr bem, falece, quase repentinamente, o filho único de sua segunda esposa, D. Maria das Dores Coutinho e Silva. Era uma criança de doze anos, por quem o casal se extremava em dedicação e carinho.
Este golpe feriu profundamente aquele lar, que só pôde encontrar lenitivo à dor na consoladora Doutrina dos Espíritos.
Tão grande foi a paz que o Espiritismo lhes infundiu, que Batuíra imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outros companheiros de labutas terrenas tivessem conhecimento daquela abençoada fonte de esperanças novas.
Inúmeras vezes escondera escravos fugidos dos maus tratos dos senhores, e, sempre que eles eram descobertos, envidava todos os esforços para comprar-lhes a liberdade.
Conta-se que nas epidemias variólicas que grassaram na capital paulista, em 1873 e 1875, Batuíra acolheu numerosos enfermos em sua casa, entre aqueles mais desprovidos de recursos, e, além de tratá-los e curá-los, dava-lhes, ainda, alimento e agasalho. Aquela casa não só tornara um verdadeiro hospital, mas principalmente um lar para os variolosos.
Por ocasião dos terremotos de 1887, na Itália, foi organizado um verdadeiro cortejo de espíritas pelas ruas da cidade, a fim de angariarem donativos em favor das vítimas. Batuíra foi um dos que fizeram parte daquele grupo, e a sua veneranda presença talvez tenha concorrido para a boa coleta obtida.
No ano de 1889, Batuíra passou a ser, na cidade de S. Paulo, o agente exclusivo do Reformador, função de que se encarregou até 1899 ou 1900.
Batuíra construiu confortável chalé, com vasto salão, adequadamente mobiliado, e ali restabeleceu o Grupo Espírita Verdade e Luz. Precisamente no domingo de 6 de Abril de 1890, diante de grande assistência, Batuíra dava início, nesse Grupo, a uma série de explicações do Evangelho segundo o Espiritismo.
Sentindo a premente necessidade de um órgão para a propaganda, difusão e defesa da Doutrina em São Paulo, adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou Tipografia Espírita.
Verdade e Luz era o nome da publicação quinzenal que apareceu desassombradamente naquele fim de século, como órgão do Espiritualismo científico, encerrando no frontispício estas duas epígrafes: Sem Caridade não há salvação e Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a lei.
Enfronhara-se nos livros de Homeopatia, a fim de gratuitamente medicar os doentes paupérrimos que lhe batiam à porta. Cheios de fé, em número sempre crescente, acorriam à casa do caridoso prático, que chegou a clinicar com boas vitórias, fato perfeitamente compreensível, pois que Batuíra era também médium curador, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que obtinha ministrando água efluviada ou aplicando passes magnéticos.
Em 1906 vivia na residência de Batuíra, em tratamento, meia dúzia de obsidiados, entre os quais se contava uma mulher que, por falta de vaga no hospício, lhe fora confiada pela autoridade policial do Braz. Isto se dava comumente, o que bem demonstra a boa fama de que gozava o grande espírita.
A ação benemérita de Batuíra não se circunscrevia, entretanto, a estas manifestações da caridade cristã. Foi muito mais além. Criou ele Grupos e Centros Espíritas em S. Paulo, Minas Gerais, Estado do Rio, os quais animava e assistia; realizou conferências sobre diversos temas doutrinários, em inúmeras cidades de vários Estados, ocasião em que também visitava e curava irmãos sofredores; espalhou gratuitamente prospectos e folhetos de propaganda do Espiritismo, por ele próprio impressos, e distribuiu milhares de livros pelo interior do País.
Em dezembro de 1904 lança as bases da Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz, em cujo patrimônio passaram a figurar a tipografia com todos os seus acessórios, bem como dois sítios localizados no Município de Santo Amaro, nos quais ficariam estabelecidas agremiações para o socorro aos órfãos e às viúvas pobres, realizando-se ali também o tratamento de enfermos e obsidiados. Às crianças seria ministrado educação e instrução.
Tudo isso foi concretizado, apesar da deficiência dos recursos monetários de Batuíra, que nesta ocasião chegou mesmo a apelar para quantos pudessem trazer a sua contribuição à obra, pois, frisava ele, não estamos dispostos a abandoná-la.
Sentindo, afinal, chegada à hora de concretizar no Estado de S. Paulo um belo e muito importante anseio da Federação Espírita Brasileira, Batuíra, unido a outros confrades ilustres, constituiu na capital paulista, a 24 de Maio de 1908, a União Espírita do Estado de S. Paulo, que federaria todos os Centros e Grupos existentes no Estado.
Em Setembro de 1908, em vez de assinar Ninguém, como sempre o fizera, Batuíra subscreveu-se Alguém. Diante de sua consciência, só agora se julgava alguém na Seara Espiritista: havia consolidado a Instituição Beneficente Verdade e Luz, à qual acabava da doar tudo quanto possuía, com plena aprovação da esposa.
Inteiramente convencido de que só o Amor constrói para a eternidade, o velho Batuíra não esmorecia um só instante no apostolado da Caridade, não medindo sacrifícios em tão belo quão árduo labutar.
Súbita enfermidade assalta-lhe o corpo, e, zombando de todos os recursos médicos, em poucos dias obriga-o a transpor as aduanas do Além. Às dezesseis horas de 22 de Janeiro de 1909, seus despojos baixaram a terra, no cemitério da Consolação.
Fonte:
O texto em resumo acima foi extraído da obra citada abaixo:
Grandes Espíritas do Brasil de Zêus Wantuil.
Link da Página: http://www.grupoandreluiz.org.br/ler_biografia.php?id=5
(Publicado em 22/03/2009)
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